Ler Pra Quê?

Entrevista com Leandro Coelho, autor de “No Mar das Trevas – A travessia do Tenebroso”

Natural do Rio de Janeiro, Leandro Coelho é escritor, advogado e mágico filantropo. Dono de um espírito aventureiro, fez várias mochiladas por países exóticos como o Egito, Indonésia, Cuba, entre outros, tendo vivido na Índia, Inglaterra e Estados Unidos – onde percorreu mais de 24 estados por terra e trabalhou em um bar de jazz e blues em Nova Orleans. Também viveu (e quase morreu) na Austrália, onde trabalhou em uma fazenda nas mortíferas terras do Território do Norte. Além da saga “No Mar das Trevas”, cujo primeiro livro foi lançado em 2022, Leandro é autor do livro “A Vila do Silêncio e Outros Absurdos”, lançado em 2016 e adaptado para o teatro em Curitiba em várias  ocasiões. Atualmente, Leandro vive enfurnado em sua casa no Rio de Janeiro, em meio a seus livros, charutos, equipamentos de mágica e frustrações, sempre na companhia de seu cachorrinho Titinho.

1.Você pode compartilhar um pouco sobre sua jornada na escrita? Como você começou e como evoluiu ao longo do tempo até se tornar um autor publicado? 

Agradeço imensamente a gentileza do convite de entrevista pelo Ler Pra Quê? É uma imensa honra. Quanto a meu início na escrita, penso que meus primeiros flertes com a pena foram nos últimos anos da escola, nos quais reescrevia histórias de filmes e séries que assistia, além de algumas histórias em quadrinhos usando meus colegas de sala de leitores cobaias. Mas foi lá pelos idos de 2011, após a passagem traumática de meu pai, que comecei realmente a escrever, dando início a meu primeiro romance até hoje não terminado, de título “As Meninas de Vestido Branco”. A morte é uma virada de página brusca (e que às vezes arranca algumas folhas). Penso ter sido o evento responsável pelo verdadeiro nascimento da escrita em mim, tornando-se um processo catártico. 

Após começar (e abandonar) o indigitado romance, mais especificamente no ano de 2012, vi um anúncio sobre um concurso literário e me inscrevi na modalidade de livro de contos. Vontade não me faltava…só o livro. Eu mantinha guardados alguns “esqueletos” de histórias, escritos em guardanapos de botequins, e fiz uma lista de seis novelas (contos estendidos). Sentei o bumbum na mesa e escrevi um conto por dia, como que os psicografando. Ao fim de seis dias, tinha um livro de mais de trezentas páginas, de título “A Vila do Silêncio e Outros Absurdos”. Não ganhei absolutamente nada no concurso, nem mesmo uma menção honrosa, e tive para mim mesmo que sofri uma grande injustiça, que o concurso foi uma grande marmelada, e decidi me vingar, escrevendo feito um louco até me tornar um escritor de sucesso ou o mundo acabar. Nem uma coisa nem outra acabou acontecendo. Ao menos meu delírio passou. Penso que todo autor iniciante é assim: se acha um Proust da vida, e acredita piamente que sua primeira obra se tornará um best seller. A verdade é que, como dizia um colega escritor aqui do Rio, “o autor iniciante deve pegar seu primeiro livro e jogá-lo fora.” Não tive coragem de fazê-lo, mas é um conselho e tanto para cair na real. 

Ainda em 2012, refeito de meus delírios iniciais, comecei a escrever uma saga sobre a viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, de nome “No Mar das Trevas”. Enviei o original para algumas editoras. Uma delas, a Record, mostrou grande interesse, mas desistiu diante da grande quantidade de páginas (em torno de 900). O romance era grande demais para um escritor desconhecido. O tempo foi passando e nada aconteceu. Me desanimei um pouco e deixei a escrita de lado. 

No ano de 2016, depois de me mudar do Rio de Janeiro para Curitiba, lancei “A Vila do Silêncio e Outros Absurdos” através de uma plataforma de autopublicação. Uma diretora de teatro da capital curitibana gostou muito de uma das novelas e decidiu adaptá-la para os palcos. A peça foi um sucesso, sendo produzida em outras três produções ao longo dos anos, uma delas patrocinada pela Secretaria de Cultura daquela cidade após vencer um concurso. Isso foi uma injeção de ânimo, e voltei a escrever. Mas não sem antes estudar. Comecei um curso de escrita ainda em Curitiba, o que foi um divisor de águas para mim. Sempre tive a impressão de que um escritor nasce pronto. Penso até que alguns deles vêm ao mundo sem precisar de retoques, mas não foi meu caso. Minha escrita teve um grande avanço depois dos estudos, e tive acesso a um gênero literário que até então desconhecia: os microcontos. Fiquei apaixonado, e durante a Pandemia de 2019 escrevi um livro de mini e microcontos de título “Desajustes”, a ser publicado e adaptado para o cinema por um diretor mineiro. Com o fim do isolamento, retornei ao Rio de Janeiro, e decidi lançar a saga de Pedro Álvares Cabral, mas dividida numa trilogia (ou quadrilogia). 

O primeiro volume, de título “No Mar das Trevas – A Travessia do Tenebroso”, foi lançado em 2022 por uma pequena editora de São Paulo. Também foi lançado no formato de e-book, alcançando uma surpreendente recepção, com mais de dois mil downloads e cerca de cinquenta mil páginas lidas no Kindle Unlimited. O segundo volume será lançado em dezembro. Em 2024 lançarei o livro de microcontos, e pretendo terminar meu primeiro romance abandonado “As meninas de Vestido Branco”

2. Muitos escritores aspirantes têm dúvidas sobre o processo de publicação. Você pode descrever sua experiência ao publicar seu primeiro livro e oferecer sugestões para autores em busca de oportunidades de publicação?

Minha primeira experiência, como dito na resposta anterior, foi através de uma plataforma de autopublicação. Assim como 99,999% dos que tentam esse caminho, não fui muito longe, e decidi tentar uma publicação com uma pequena (e obscura) editora. Pensei que teria mais sucesso por esse caminho, mas quebrei a cara (e mais alguns ossos). A pequena editora (assim como a grande maioria delas) não passava de uma gráfica fundo de quintal, a qual não fez nenhum trabalho de divulgação da obra, realizou uma terrível “revisão”, e me entregou um livro de péssima qualidade. 

Tentei publicar com uma editora de Portugal, que recebeu pela revisão, diagramação, e um pequeno número de exemplares, mas acabei levando um calote. Não vi nem a sombra de um mísero livro. Fui procurado por algumas outras editoras, mas terminei igualmente engabelado. Foi aí que a ficha caiu, de que o mercado de editoras pequenas no Brasil é inóspito para os escritores sem renome, e oferecem poucos meios de ajudá-los. 

Decidi dar um reboot na minha carreira, e busquei, antes de qualquer coisa, me perguntar que tipo de escritor eu era, e o que eu desejava com minha trajetória literária. Penso que é daí que devemos seguir. Decidi me aceitar, não como um escritor profissional, mas apenas como um autor com potencial para, quiçá, me tornar um escritor profissional. Tirar essa obrigação de minha cabeça foi um grande passo para aliviar a cobrança que eu impunha a mim mesmo, e poder ter um processo criativo mais orgânico e menos ansioso, e, consequentemente, menos aflitivo. Decidi que o caminho para minha trajetória na escrita seria um mar de tranquilidade, no qual eu produziria quando estivesse com “fome de escrever”, sem obrigação de colher fruto algum, senão minha própria satisfação com o processo de criação. 

Em outras palavras, decidi não escrever para viver, mas viver para escrever. Logo, hodiernamente, eu mesmo publico meus livros de forma independente. Contrato os revisores, diagramadores, capistas, e lanço os livros nas plataformas de vendas sob demanda. Ou então, encomendo uma tiragem junto a uma gráfica e vendo os livros diretamente para os leitores. Meu marketing é feito pelas redes sociais ao meu tempo, e assim sigo, sem pretensões de sucesso, a não ser me divertir com o processo da escrita. Se um dia uma editora tradicional séria fizer uma proposta de publicação, estou aberto para conversas. Mas correr atrás disso, está fora de meu radar. É o caminho certo? Não existe caminho certo. Existem vários deles. O meu pode ser uma rua sem saída para alguns, mas foi o que escolhi, é o que me faz bem. O que importa é que estou curtindo minha viagem. 

Por conta disso, não tenho muitas sugestões para os colegas iniciantes, senão que descubram quem são e para onde querem ir antes de tudo. Isso é 99% do trabalho. O resto é abrir a janela e curtir a brisa da estrada escolhida. 

3. Cada autor tem seu próprio processo de escrita. Pode nos contar um pouco sobre o seu? Como você planeja, escreve e revisa seus livros?

Stephen King sugere que as histórias estão dentro de nós, que devemos garimpar nossas mentes atrás delas, como alguém que cava o solo com uma picareta até encontrar petróleo. Hemingway dizia que, para escrever, basta sentar-se diante da máquina de escrever e sangrar.  Já tive expediências nas quais essa premissa se mostrou verdadeira. Várias foram as cadeiras de bares nas quais sentei, debaixo da lua com um conhaque, e “garimpei” ou “sangrei” algumas boas histórias. Contudo, em outras vezes, elas simplesmente pularam na minha frente. 

Penso que o importante para o escritor é angariar material através da vivência, simplesmente vivendo: viajar, sair de casa para tomar um suco na esquina, escutar conversas dos outros nos bancos dos ônibus, arrumar confusões, beber com os amigos, experimentar romances, etc. Outra forma de inspiração é consumir arte. Toda e qualquer manifestação artística pode servir de inspiração para o escritor, pois as artes não são estanques, e sorvem inspirações umas das outras. Muitos filmes, músicas, poemas e pinturas já me inspiraram. Ou seja, o escritor deve ser uma esponja, absorvendo absolutamente tudo à sua volta, transformando o que vive e consome em material para seus escritos, pouco importando como eles surgem. 

Quanto ao planejamento da obra, se for um poema ou microconto, simplesmente escrevo quando aparecem. Para os contos mais longos e romances, raramente escrevo sem antes ter um arcabouço, um esqueleto completo do escrito: um título, um começo, meio e o fim. Sem isso, fico perdido. É o título que me dá o Norte. E sem o começo, meio e fim, fico à deriva, tal como um náufrago agarrado a uma boia (furada). Munido disso, fica bem mais fácil escrever, e à prova de desistências, porque já tenho a história toda costurada nas mãos, e vou apenas preenchendo os espaços. Para romances de maior fôlego, como no caso da saga de “No Mar das Trevas”, com uma multiplicidade de personagens, tive de usar um caderno com os nomes de todas elas, como se fosse um diário de bordo, anotando tudo o que acontecia. Assim, não me perdia, tampouco corria o risco de criar um buraco na trama, como a volta de uma personagem morta. Uma coisa que me preocupa muito em minhas histórias é a originalidade. Num universo com tantas pessoas escrevendo, é imperioso que o autor se certifique de que o que ele escreverá terá uma carga razoável de originalidade. Se vou trabalhar com um mundo similar aos já criados, tenho o cuidado de escrever alguma coisa original, nem que seja um simples elemento novo. 

Por isso, antes de sentar na frente de meu computador e “sangrar”, sempre verifico se o que trarei ao mundo já não foi criado por outros colegas, e, caso tenha sido, ao menos tento incluir um elemento inédito. Quanto à revisão, eu mesmo faço a maior parte dela. Leio, releio e reescrevo dezenas de vezes. Já dizia um autor (não me lembro qual), que o trabalho do escritor não é escrever, mas reescrever. O uso de um profissional de revisão também é importante, apesar de não ser uma garantia total. Penso que o escritor deve fazer a revisão final, pois a obra é dele, e, consequentemente, a responsabilidade pela total eliminação dos erros também o é. Logo, assim que termino um livro, releio no computador, corrijo-o, corto o máximo que puder, deixo a escrita enxuta, imprimo o livro, reviso-o novamente (pois no papel os erros são mais fáceis de serem vistos), reescrevo trechos, corto mais algumas coisas, e recomeço tudo. Não tenho pressa. Levei mais de dez anos na saga “No Mar das Trevas”, e ainda assim não está do jeito que eu quero. 

Um livro nunca está pronto, e minha revisão parece ser eterna. Seria essa neura do escritor uma maldição? Pode até ser, mas tento fazer com que seja divertida. Afinal de contas, viver não é encher linguiça entre o nascimento e a morte? Por que não, então, revisando nossos livros? 

4. Ao longo de sua carreira, você deve ter enfrentado desafios literários. Poderia compartilhar um desafio significativo que tenha enfrentado e como o superou?

Um grande desafio que tive (e ainda tenho) é escrever corretamente. Escrever bem é subjetivo, mas escrever corretamente é um pressuposto objetivo. Acho que o compromisso inicial do escritor é com o idioma, fazendo de tudo para evitar erros de português. 

Outro ponto nodal que sempre me policio é a fluidez. Escrever um livro é a coisa mais fácil do mundo, mas escrever um livro bom é a coisa mais difícil na vida, e uma história truncada, confusa e cansativa é um obstáculo para que isso ocorra. Penso que esses são meus dois maiores desafios literários. Para com os demais desafios, como ser lido, angariar leitores, criar um público-alvo, e obter algum êxito, esses são resolvidos com um pouco de estratégia, esforço e tempo. 

5. A construção de personagens autênticos e cativantes é fundamental na escrita. Como você desenvolve seus personagens e os torna memoráveis para os leitores?

Penso haver diferentes graus de evolução das personagens, dependendo de seus encaixes e importâncias na trama. Uso muito nas minhas personagens influências de outras obras, sejam literárias ou de cinema (sou um cinéfilo contumaz), ou das personagens da vida real que cruzam meu caminho. Aviso sempre às pessoas para terem cuidado com os escritores, pois eles podem usá-las como material para construir um vilão, e assim o faço às vezes, enxertando elementos das personalidades à minha volta. Alguns ex-chefes meus já viraram antagonistas, algumas ex-namoradas viraram mocinhas e gaiatos já viraram bobos da corte em alguns de meus escritos. 

Sou um ladrão de histórias e pessoas da vida real, e uso todas as suas tintas nas minhas personagens. Para tal, mantenho sempre os olhos e ouvidos bem abertos. Presto atenção a todos em minha volta. Não deixo passar nada. Já obtive boas falas e trejeitos ouvindo conversas de pessoas lendo as manchetes de jornais nas bancas de esquina, nos trabalhos que tive, nas viagens que fiz, nos filmes que assisti. Tudo é referência, tudo é fonte, absolutamente tudo. Não menosprezo ninguém. Muitos dos trejeitos e idiossincrasias das pessoas no meu entorno acabam por formar minhas personagens.  

6. A pesquisa desempenha um papel importante em muitos gêneros literários. Como você aborda a pesquisa para seus livros e garante a precisão dos detalhes?

Me preocupo muito com isso. Se me presto a escrever uma obra histórica, farei de tudo para mantê-la com o máximo de fidedignidade. Odeio ler livros e assistir a filmes históricos com anacronismos. Eu até incluí alguns na saga de “No Mar das Trevas”, mas o fiz com uma licença poética, devidamente fundamentada. Por exemplo: em torno de 1499 e 1500, as naus e caravelas portuguesas ainda não tinham canhões instalados no interior de seus cascos. Eles só foram introduzidos nos navios de guerra alguns anos depois, por intermédio de dois inventores ingleses. Eu precisava incluir tal armamento na história por conta de algumas cenas idealizadas. Decidi incluir a informação de que tais armamentos só seriam inventados dois anos depois, mas os portugueses contrataram os tais engenheiros ingleses para instalar os canhões como um experimento. Isso não ocorreu, mas pedi uma licença para incluir o elemento na trama, fundamentando tal uso para afastar o anacronismo acidental. 

No caso da saga de Pedro Álvares Cabral, escrevi os dois primeiros volumes em quatro meses, mas levei mais de um ano de pesquisas a fundo, utilizando, inclusive, livros do século XVI, sobre a construção das caravelas e naus. Também usei a carta de Pero Vaz de Caminha como linha histórica, tentando seguir toda a sua cronologia, mudando-a algumas vezes, mas sempre deixando subentendida a licença poética para revisar fatos históricos. 

7. Os escritores frequentemente lidam com bloqueios criativos. Como você supera a falta de inspiração e mantém a produtividade em seus projetos de escrita?

Costumo dizer que o tal bloqueio criativo não existe. Não passa de um Boitatá. Ao menos para mim. O que ocorrem são períodos de plantio, safra e entressafra. Muitas das vezes passo um tempo escrevendo de forma intensa e contínua, e depois paro para reescrever, maturar a obra, entrando num tipo de cockpit. Ou seja, fecho para balanço. É meu período de entressafra, sem tempo determinado. Saber que tais períodos existem impedem que eu me sinta angustiado por não estar produzindo. 

As histórias estão lá, como dizem o tio King, ou então, em algum momento, pularão na minha frente. Nesse meio tempo, tento viver o maior número de experiências possível. Faço mochiladas (às vezes de alguns meses), me inscrevo num curso novo, tento fazer algo que nunca fiz, tomo alguns porres, faço algumas merdas (se não prejudicarem ninguém, por que não?), percorro algumas novas trilhas, vejo (ou revejo) uma tonelada de filmes, me aventuro num esporte novo (para logo depois abandoná-lo), tudo isso com o intuito de angariar material, tal como alguém que estoca vinhos numa adega, até a hora de estarem prontos para serem bebidos. 

Vou acumulando minhas vivências lá no fundo da minha mente, em pesados barris de carvalho, para, no futuro (se eu estive vivo), transformá-las em histórias, sem a preocupação de produtividade. Deixo isso para os donos de vinícolas.

8. Marketing e promoção são essenciais para alcançar o sucesso como autor. Quais estratégias de marketing literário você encontrou mais eficazes e quais sugestões daria a outros autores que desejam promover seus livros?

O marketing é essencial nos dias de hoje, não só para aqueles que querem o sucesso, mas para quem deseja ao menos ser lido. Não adianta nada terminar seu livro, publicá-lo, e esperar o Nobel de Literatura se ninguém ouviu falar de sua obra. Se você é um autor iniciante, terá de se esforçar para ser conhecido. Eu usei bastante o Instagram, e tive resultados muito bons. É uma ótima ferramenta, pois os leitores são seguidores de centenas de críticas e críticos literários. 

O que fiz foi procurar o máximo de instagramers possíveis, explicando minha obra, seu gênero, elementos, tipos de personagens, etc. Ou seja, deixando as críticas e críticos curiosos para lerem meus escritos. Uma porcentagem de donos de bookstagrams se interessaram e mandei o livro. Muitos gostaram e começaram a fazer resenhas, a maioria de forma orgânica. Alguns bookstagrams cobram para resenhar (o que não é problema algum), mas a grande maioria, não. Vai de cada um, de acordo com suas realidades. 

Uma postura importante, e que me trouxe bons frutos, foi não subestimar absolutamente nenhum bookstagram. Por vezes, o perfil tinha 10 seguidores, mas não me importava, porque, às vezes, um profile pequeno tem seguidores mais ativos do que um com mais de 50 mil. O que importa é a qualidade, e não a quantidade. Além de tornarem meu livro conhecido, fiz amigos e amigas muito queridas. Por isso, minha sugestão é: busquem as donas e donos de perfis literários. Conquiste-os com a qualidade de seu livro, seja amigável, generoso, e eles farão de tudo para divulgar sua obra. 

Outra forma de divulgação e visualização é escrever em sites literários. Escrevo para um de nome Trema.com. Fiz muitos leitores e colegas por lá. Além disso, também acho interessante participar de coletâneas e concursos literários. Qualquer ação gera uma consequência, nem que seja pequena, mas gera. O que vale é sair da inércia, porque nela, você jamais será lido. O sucesso é consequência, nunca a meta. O escopo é ser lido, pois um escritor que não é lido é um escritor que não existe. Corra atrás para angariar leitores, ou morra tentando. Não é nenhuma tragédia, afinal de contas, todos morremos de alguma coisa, não é?

9.  Além de suas próprias obras, você também é um leitor. Quais livros ou autores influenciaram sua escrita e que livros você recomendaria aos leitores que desejam explorar mais seu gênero literário?

Foram muitas as influências. Citarei os livros que mais me marcaram, aqueles que nunca saíram da minha cabeça, os quais também indico, a maioria dentro de meus gêneros literários: 

  • O Encontro Marcado, Os Grilos Não Cantam Mais e O Gato Sou Eu, todos de Fernando Sabino; 
  • O Mestre e Margarida, de Mikhail Bulgakov; 
  • Os Sertões, de Euclides da Cunha (talvez o que mais tenha me marcado); 
  • Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde (um dos livros mais fantásticos e ricos que já li); 
  • Na Estrada, de Jack Kerouac (me levou a fazer uma mochilada de seis meses pelos Estados Unidos, sem falar que Bob Dylan fugiu de casa aos 17 anos depois de lê-lo);
  • Os Miseráveis, de Victor Hugo; 
  • Cem anos de Solidão, de Gabriel García Márquez;
  • Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; 
  • Feliz Ano Velho, do Marcelo Rubens Paiva; 
  • Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley; 
  • Cem Sonetos de Amor, do Pablo Neruda; 
  • O Lobo da Estepe e Sidarta, ambos de Herman Hesse; 
  • As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano;
  • As Três Irmãs, de Anton Tchekhov; 
  • Dez Dias Que Abalaram O Mundo, de John Reed (um sonho de livro em todos os sentidos); 
  • O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder; 
  • A Hora do Vampiro, A Zona Morta, Jogo Perigoso; 
  • Louca Obsessão; Desespero, As Quatro Estações e Tripulação de Esqueletos, todos de Stephen King; 
  • Paris É Uma Festa, de Ernest Hemingway (vai te fazer querer voltar no tempo e viver na Paris dos anos 20); 
  • Dom Quixote, de Cervantes;  
  • A Estrada, de Jack London (que inspirou Jack Kerouac); 
  • Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe; 
  • Crime e Castigo, de Dostoiévski; 
  • A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera; 
  • Fernão Capelo Gaivota e Ilusões, ambos de Richard Bach;
  • Che Guevara, a Vida Em Vermelho, de Jorge Castañeda;
  • Drácula, de Bram Stoker (que livro!); 
  • O Analista de Bagé, O Gigolô das Palavras e A Comédia da Vida Privada, todos de Luis Fernando Verissimo;
  • Metamorfose, de Franz Kafka; 
  • O Pequeno Príncipe, de Antonie de Saint-Exupéry;
  • O Alquimista, de Paulo Coelho.

10. Para encerrar, que conselhos ou palavras de incentivo você gostaria de compartilhar com escritores iniciantes que aspiram a seguir seus passos e se tornar autores publicados?

Meu conselho é: vivam. 

Vivam muito. Saiam com amigos para se embebedar, sem medo de pagar micos; apaixonem-se muito; tenham amores possíveis, impossíveis, platônicos, etc. Chorem, chorem sem parar, por dias, semanas. Derrubem cachoeiras de lágrimas, pois elas são carvão para a imaginação. É a dor que alimenta nossos fornos poéticos. Não tenham aversão ao sofrimento, pois com ele também vêm as palavras. Saltem de cabeça em novas experiências (sempre usando paraquedas, é claro); sejam caras de pau, entrem de penetras em festas alheias; mandem um guarda ir tomar no cool e saiam correndo (mas se forem presos, não digam que fui eu que mandei); viajem, mesmo que seja para um lugar próximo, desde que conheçam pessoas e lugares novos; observem o máximo possível o mundo; colecionem pessoas e histórias alheias, mantendo olhos e ouvidos sempre abertos; leiam o máximo de livros que puderem; assistam a filmes, peças de teatro; ouçam músicas de todos os tipos; acampem numa floresta sinistra e durmam sob as estrelas; escalem uma montanha, vulcão ou um montinho, que seja; visitem museus, pois às vezes um objeto antigo pode fazer nascer uma história; experimentem comidas diferentes; cozinhem comidas diferentes; aprendam coisas novas o tempo todo, especialmente algo incomum; joguem fora todos os preconceitos idiotas, pois eles limitam muito nossas mentes; não tenham medo de errar; tenham interesse por tudo, absolutamente tudo, não menosprezem nada, e mais uma vez: vivam. Vivam muito. É da vivência que vem o material para a escrita. O escritor que não vive, não escreve. 

E agora vem o pulo do gato: se você quer escrever um livro para se tornar um escritor rico e famoso, desista. Largue tudo hoje mesmo. Queime seu livro, apague todos os arquivos de seu computador, enterre suas pretensões debaixo de sete palmos. Esse ramo não é para você, pois nele não há recompensas garantidas. As únicas garantias são frustrações, perdas financeiras, noites mal dormidas, traições, competições desleais, portas fechadas, ostracismo, dúvidas, ansiedades, medos e fracassos. 

Mas se você quiser escrever um livro para dividir suas experiências mais fantásticas; para revelar seus sonhos mais espetaculares e seus pesadelos mais sombrios; para enriquecer ou preencher a vida de alguém (nem que seja uma única pessoa), ou seja, se você deseja escrever para fazer parte do mundo de uma forma especial e deixar nele sua marca, então você é um colega escritor, e já alcançou o sucesso. Mande brasa!

Confira a resenha de "No Mar das Trevas":

Essa foi a nossa entrevista com o escritor Leandro Coelho e você pode acompanhar o trabalho incrível que ele faz (inclusive cobrar o término de suas obras) através dos links abaixo:

Instagram: @leocoelhojus e @mardastrevas

Facebook: https://www.facebook.com/profile.php?id=1225936481

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E eu fico por aqui e te espero na próxima entrevista!

Mil beijos literários!

3 comentários em “Entrevista com Leandro Coelho, autor de “No Mar das Trevas – A travessia do Tenebroso””

  1. Cretan Pires de Oliveira

    Conheci essa figura em Curitiba e fico feliz por isso! Um cara muito legal de conviver, divertido e com um pouco mais de 2 neurônios na cabeça, coisa difícil nos dias de hoje! Parabéns Leandro e muito sucesso!

  2. Parabéns pela entrevista!
    Eu li “A Vila do Silêncio e Outros Absurdos” e gostei muito; agora quero ler “No Mar das Trevas” também. E que venham mais livros do Leandro!

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