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Permissão para entrar

A reconciliação não é para o outro, é para você mesmo.

A vida nos ensina todos os dias, mas nem sempre aprendemos. Digo isso porque vou compartilhar algo com você, algo íntimo, mas que demorei algum tempo para compreender.

Na véspera do Dia dos Pais do ano passado, minha irmã mais nova anunciou que estava grávida. Não me lembro de ter olhado para ela com mais amor do que naquele dia.

Foi muito especial para minha família, mas principalmente para mim.

Era como se uma fresta de luz tivesse atravessado a porta, que talvez fosse imaginária, mas que, ainda assim, de algum modo, nos mantinha distantes.

Cresci como a mais velha de três irmãos, então perdi a atenção dos meus pais precocemente. Confesso também que não fui aquela que deu menos trabalho.

Mas, quando nos tornamos adultos, eu e meus irmãos acabamos nos distanciando, tanto fisicamente quanto emocionalmente.

Acredito que nunca fui uma amiga íntima da minha irmã. Reconheço que falhei miseravelmente nesse sentido.

As coisas pioraram quando fui morar com meu primeiro namorado. Eles nunca disfarçaram a falta de afeto entre eles. Isso perdurou por anos e só acabou quando terminei o relacionamento, o que foi visto como um alívio para todos.

Foi então que algo estranho aconteceu.

Senti que podia me aproximar de minha irmã outra vez. Algum tempo depois, descobri que havíamos nos afastado porque ela não concordava com o tratamento que ele me dava.

De todo modo, quando recebi a notícia de que ela estava grávida, foi mágico para mim.

Era como se a vida me desse uma segunda chance de ser uma boa irmã, porque havia mais um coração entrando em nossas vidas. Assim, finalmente, eu poderia exercer minha função de irmã mais velha, cuidando da mais nova.

Um coração que batia fora do peito, mas no ventre da minha irmã.

Quando a vi, em um final de semana, com a barriguinha de seis meses à mostra, não resisti em avançar em direção àquela porta invisível e me aproximei dela.

Minha mão pousou em sua barriga para que eu pudesse sentir a nossa Juju que estava a caminho. Imediatamente, ela se remexeu com leves batidinhas, e nós rimos em um misto de emoção e ternura.

Demorou apenas alguns segundos para que a porta entreaberta se abrisse.

Era como se a nossa Juju tivesse conversado com a vida, me dando permissão para entrar.

Mais tarde, sentadas no sofá da casa de nossos pais, começamos a fazer planos para a chegada da minha sobrinha. Em momento algum, minha irmã negou alguma das minhas sugestões; muito pelo contrário, ficou feliz em ouvi-las.

A cada decisão, a Juju se manifestava na barriga da minha irmã. Ela parecia alegre por estarmos próximas. E, a cada leve batida, mais eu tinha certeza de uma coisa:

A vida me convidava a entrar porque a porta nunca esteve fechada.

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