Talvez eu tenha me apaixonado cedo demais, confesso. Mas não poderia ter sido de outro modo.
Tenho uma memória dos meus quatro anos, na cabeceira da cama de minha mãe, onde ela lia, absorta, um pequeno livreto. A luz do abajur mal iluminava o quarto, e ela se sobressaltou ao perceber minha silhueta quase imersa na escuridão.
Curiosa, a pequena Menina sonhadora queria descobrir o que sua mãe lia e ler também. A mãe, paciente, explicou que ainda não era o momento certo para isso e a acolheu em seu colo, compartilhando as palavras daquele livro. Depois, satisfeita com a intervenção, a nossa Menina Sonhadora quis saber quando poderia ler um livro sozinha. A mãe, feliz ao ver o interesse genuíno da filha, respondeu que em breve ela poderia ler quantos livros quisesse.
E assim, nossa história começou.

Quanto mais ela lia, mais ela lia.
E através das páginas, se preenchia.
Conforme o tempo passava, e mais ela crescia,
nos livros se encontrava, e nos encontros se via.
Perambulava em aventuras, fantasias,
viajava para terras longínquas, de pura magia,
adentrava os clássicos romances,
se perdia na dança, nas cores,
nas estradas, nas estantes e tapeçarias.
A leitura a salvava, mesmo quando não sabia.
Até que a vida adoecia,
e no caos do mundo, se perdia.
O peso da rotina era insuportável,
e em páginas em branco, se esquecia.
Com medo de não ler mais,
buscava coragem para enfrentar sua covardia.
Era a vida adulta que se erguia
na correria do dia a dia.
Seu sonho quando pequenina
era espalhar o amor que sentia.
Até que ouviu uma voz austera dizer:
“É preciso acordar dos devaneios, Menina!”
O tempo passava, mas a paixão persistia.
Se aproximava dos livros outra vez,
numa esperança quase adormecida.
Dentro dela, uma luz renascia
e se tornava mais intensa enquanto ardia.
Sentia que naquela caixa
onde fora colocada, já não cabia.
Sofria em silêncio,
pelo que devia fazer e pelo que queria.
Até que as paredes ruíam
e a caixa, diante de seus olhos curiosos, se rompia.
Assim, livre de seu aprisionamento,
ela via o mundo e o mundo a via.
E ao olhar para suas mãos,
ali estava o livro que lia.
Foi assim que a Menina que sonhava com livros descobriu o que fazer com seu sonho. Hoje, pelo que se sabe, ela escreve seus próprios livros e compartilha com muitos leitores o amor pela leitura — afinal, se não fosse por ela, esse canal não existiria.
Com muito amor no coração, livros e café, que possamos seguir espalhando o amor pela leitura a todos que dele precisarem.
Lindo! Lindo em prosa, lindo em poesia. Adorei!
Fico imensamente feliz lendo o depoimento de um poeta! Obrigada, Guilherme!