Através da janela, vi um andarilho com uma mochila pesada nas costas. Ele caminhava distraidamente enquanto comia uma banana já pela metade. Por um momento, cogitei que aquela poderia ser sua única refeição naquele dia.
O dia estava cinzento e fresco, ainda marcado pela chuva que caíra mais cedo. O andarilho vestia um casaco de inverno em plena primavera, o que me fez questionar de onde ele poderia vir.
Ele parou diante de um terreno abandonado, observando-o por alguns instantes. Talvez estivesse imaginando que aquele lugar poderia servir de abrigo para a noite.
Seu pensamento, no entanto, foi interrompido pelo barulho de uma bicicleta que parou a poucos passos de distância. O jovem ciclista tateou os bolsos à procura de um punhado de moedas e surpreendeu o andarilho, que nem havia percebido sua presença.
Quando recebeu as moedas, o andarilho abriu um sorriso. Imediatamente, suas mãos se apertaram em um gesto de irmandade e agradecimento. Foi um momento rápido, mas carregado de gentileza e sinceridade. O jovem voltou à sua bicicleta e seguiu o caminho, enquanto o andarilho retomou sua jornada, até desaparecer de vista.
Eu permaneci ali, encarando o ponto onde os dois haviam estado a apenas alguns segundos antes, refletindo sobre a cena que acabara de presenciar.
O jovem não julgou o andarilho, e este, por sua vez, não pediu nada.
Penso que a gentileza transcende ações materiais como moedas ou apertos de mão. Ela está no amor que somos capazes de sentir e oferecer ao outro.
Está em enxergar o outro como igual, mesmo que trilhe caminhos diferentes dos nossos.
Como diria Nietzsche, “a gentileza é o princípio do toque de uma alma sobre outra”.
A gentileza não julga o peso da mochila alheia, mas estende a mão para construir pontes que conectam diferentes jornadas.
Então, sempre que possível, sejamos gentis com aqueles que cruzam nossos caminhos. Afinal, nunca sabemos o que eles carregam em suas mochilas e, muito menos, para onde estão indo.











