Ler Pra Quê?

DIA NACIONAL DO ESCRITOR E DIA INTERNACIONAL DA MULHER NEGRA LATINO-AMERICANA E CARIBENHA

O conteúdo de hoje, além de especial, é em dose dupla! Duas datas importantes são celebradas no dia 25 de julho: o Dia Nacional do Escritor e o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e caribenha. Mas você conhece a origem dessas duas datas?

Se não conhece, convido você a ler os próximos parágrafos.

O DIA DO ESCRITOR

O Dia do Escritor é celebrado em 25 de julho, visto que a data teve origem em 1960, com a realização do Primeiro Festival do Escritor Brasileiro, organizado pela União Brasileira dos Escritores sob a presidência de João Peregrino Júnior e Jorge Amado.

A data foi criada para ressaltar a importância do trabalho desses profissionais, que através da escrita, têm o poder de transmitir conhecimento, cultura, contar histórias, criar personagens marcantes e através de sua escrita, transformar a vida das pessoas (da mesma forma que acreditamos que a leitura permite que as pessoas transformem o mundo).

O objetivo dessa data é dar mais visibilidade ao trabalho desses homens e mulheres que se dedicam a narrar histórias, criar universos poéticos, que observam tantos cenários e se perdem dentro deles em busca de nos mostrar a melhor forma de chegarmos até lá, através da magia de suas palavras (algo que só eles conseguem fazer).

A profissão de escritor é, ainda nos dias atuais, digna de pouco reconhecimento: muitos escritores contemporâneos não conseguem sobreviver financeiramente apenas com os direitos autorais de suas obras e, na maioria das vezes, dividem seu tempo entre aulas, palestras e outras atividades. 

Ainda assim, no Dia Nacional do Escritor buscamos celebrar a data desses profissionais que dedicam o bem mais precioso de suas vidas (o seu tempo), para nos trazer a magia de viver as vidas que só poderemos ter através de suas histórias e palavras.

Posse do escritor Jorge Amado na Academia Brasileira de Letras, em 1961.

OS CINCO GRANDES ESCRITORES BRASILEIROS

MACHADO DE ASSIS

O grande patrono da literatura brasileira e até hoje aclamado como o maior dos escritores nacionais, Joaquim Maria Machado de Assis escreveu poemas, romances, peças de teatro, contos e crônicas. Foi também um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Seus textos em prosa são mais célebres graças ao estilo simples e bem-acabado das narrativas, cuja linguagem literária guarda ironia, críticas sociais mordazes, humor e leveza, mas também um rico trabalho com o foco narrativo e com os traços psicológicos de suas personagens.

Machado foi um dos precursores do Realismo no Brasil, mas seu modo de narrar foi além das simples características desse movimento. É o caso do aclamado romance Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), narrado por um defunto autor – ou seja, por um Brás Cubas já morto, que rememora sua vida, repleta dos vícios de um Brasil escravocrata, elitista e patriarcal. Também Quincas Borba (1892) e Dom Casmurro (1899) são obras importantes do autor.

O escritor Machado de Assis.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Natural de Itabira, interior de Minas Gerais, Drummond escreveu contos, crônicas e principalmente, poemas. Sua lírica inquieta trabalhou no verso as questões profundas e sem resposta da humanidade, como a vida, a morte, o sofrimento e o amor, e também reverberou as questões de seu próprio tempo, como a guerra, a polarização do mundo, a aceleração do capitalismo financeiro e o Brasil urbano e rural. “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”, diz o poeta, e assim se mostra, às vezes seco e conciso, às vezes leve e bem-humorado.

O escritor Carlos Drummond de Andrade.

JOÃO GUIMARÃES DA ROSA

Ele foi considerado o maior escritor brasileiro do século XX, graças à maneira como reinventou a língua portuguesa em seus contos longos e novelas. Além de médico, foi diplomata e exímio narrador, mas foi da experiência do Brasil rural, do universo do causo e do pensamento mítico-mágico que extraiu a matéria-prima da sua literatura.

Poliglota e pesquisador incansável, Rosa fez uma catalogação da fauna e flora do cerrado brasileiro – cenário que é praticamente personagem de suas histórias. Plantas e bichos, gente e sonhos desse “Brasil de dentro”, afastado dos grandes centros e tantas vezes esquecidos, são o canal por meio do qual expressa temas universais, como o bem e o mal, a injustiça, o amor, o poder etc.

O escritor João Guimarães da Rosa.

CLARICE LISPECTOR

Ela nasceu na Ucrânia, mas foi naturalizada brasileira, e escreveu uma obra em prosa aclamada por sua profundidade psicológica e por seu estilo inovador. Autora de crônicas, contos e livros infantis, Clarice ocupa hoje uma posição central na literatura nacional.

Muitas vezes tida como inclassificável, a obra da autora tem uma característica própria: a sensorialidade. São as sensações provocadas pelos eventos que guiam o fio narrativo lispectoriano e criam uma nova sintaxe, uma nova gramática, um mergulho no que há de mais enigmático na existência humana.

As personagens das narrativas de Lispector são comuns, nada extraordinárias, mas frequentemente mergulham em si e nas situações em que se encontram, perscrutando aquilo que muitas vezes passa desapercebido. 

Evocam sensações e percepções do inconsciente e são muitas vezes acometidas de epifanias. É uma literatura intimista, psicológica e por vezes vertiginosa. 

A escritora Clarice Lispector.

CONCEIÇÃO EVARISTO

Professora doutora, poeta e prosadora, Conceição Evaristo é um dos maiores talentos literários da contemporaneidade. Escreve contos, novelas, romances, poesia e textos críticos, teve sua obra traduzida para o francês e o inglês e é dona de um estilo literário próprio, que batizou de escrevivência, um realismo poético que mistura situações verídicas e ficcionais, em uma recriação da realidade.

As protagonistas das histórias de Evaristo são mulheres, uma herança de sua própria biografia: a autora ouvia as histórias de sua avó, da mãe, das tias. A oralidade da contação de histórias e a percepção poética e consciente do mundo são constantes em seu texto.

Militante, ela narra o mundo circundante a partir de sua própria condição de mulher negra, que viveu na pele a discriminação, o trabalho precarizado e a invisibilidade nos meios culturais. 

A escritora Conceição Evaristo.

O DIA INTERNACIONAL DA MULHER NEGRA LATINO-AMERICANA E CARIBENHA

A data nasceu em 1992, que foi o ano do 1º encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, realizado em Santo Domingos, na República Dominicana, que além de propor a união entre essas mulheres, visava também denunciar o racismo e machismo enfrentados por mulheres negras, não só nas Américas, mas também em todo o mundo. 

Através desse encontro, nasceu a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas. A Rede, em união à ONU, lutou para o reconhecimento do dia 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha.

A importância da existência de um dia específico para as mulheres negras, diferente do Dia Internacional da Mulher, se dá por conta das especificidades das condições da mulher negra, histórica e socialmente. 

Tomemos como exemplo, uma das lutas mais importantes do feminismo universal, que foi o direito de trabalhar fora de casa sem a necessidade da autorização do marido, uma condição que as mulheres racializadas desconhecem historicamente, pois o trabalho faz parte da sua realidade desde a escravidão. 

A força de trabalho das mulheres negras era tão explorada quanto a dos homens de mesma raça, e quando eram destinadas ao trabalho nas plantações, exigia-se delas a mesma produtividade dos homens. Ser mãe em tempo integral, dona de casa e ter um marido como provedor financeiro do lar nunca foi uma questão para as mulheres negras de uma maneira geral.

 
A escritora Maria Firmina dos Reis.

5 AUTORAS PARA SE INSPIRAR

Cristiane SobralAutora das obras “Não Vou Mais Lavar os Pratos”, “Espelhos”, “Miradouros”, “Dialéticas da Percepção” e “Só por Hoje Vou Deixar Meu Cabelo em Paz”. É Diretora de Gestão e Produção Cultural no Sindicato dos Escritores do Distrito Federal. Nasceu no Rio de Janeiro e é mãe.

Elizandra Souzaé autora do livro “Filha do fogo” e “Águas da Cabaça”, que foi totalmente produzido, editado e publicado por jovens mulheres negras. É coautora do livro de poesias “Punga” (2007), com Akins Kintê, e participou de publicações em revistas e antologias literárias, como Literatura Marginal – Ato 3, Cadernos Negros e Negrafias.

Joice Berth: é arquiteta e urbanista, estuda direito à cidade, com recorte de gênero e raça. É autora do livro “O que é Empoderamento?”. Atualmente, é colunista na revista Elle Brasil.

Maria Firmina dos Reis (1822 – 1917): nascida no Maranhão em 1825, foi a primeira romancista brasileira ao publicar a obra Úrsula (1859). Ao longo dos seus 92 anos de vida, denunciou a condição crítica e o cenário de desigualdade vivido pelos escravizados e pelas mulheres no século 19. Sempre lutou pela educação, igualdade racial e de gênero, e como educadora, fundou a primeira escola mista do seu estado.

Sueli Carneiro: filósofa, escritora e ativista antirracismo do movimento social negro brasileiro, Sueli nasceu em São Paulo em 1950. É Doutora em Filosofia pela USP e fundadora do GELEDÉS – Instituto da Mulher Negra. É considerada uma das mais relevantes pensadoras do feminismo negro no Brasil.

Elizandra Souza, Cristiane Sobral, Sueli Carneiro e Joice Berth.

Agora que você sabe um pouquinho mais sobre essas duas datas importantes, convido você a compartilhar esse post com todos os seus amigos! 

E eu fico por aqui,

mil beijos literários e até a próxima!

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