Há algo mágico em cada troca de estação, algo que mal consigo nomear, mas que, de algum modo, posso ao menos tentar descrever.
Os dias se tornam mais curtos, e as noites, mais longas. Aqui, onde moro, os pássaros cantam muito antes de o sol aparecer no horizonte, e por um instante, acredito que o fazem na esperança de que o astro rei desponte mais cedo.
Em uma sinfonia, uma orquestra rompe o silêncio do crepúsculo. O frescor de cada amanhecer nos lembra que algo mudou, ainda que sutilmente.
As folhas, nas copas das árvores, começam a mudar de cor — aquela tonalidade tão característica da estação que antecede o inverno —, lembrando-nos de que não permanecerão ali por muito tempo.
Em breve, o verde dará lugar a tons acobreados, marcando o fim de mais uma estação, como a natureza nos ensina a cada ciclo. As folhas cairão, até restarem apenas os galhos secos à mostra.
O céu será tingido de tons cinzentos e, vez ou outra, um rastro azul surgirá entre nuvens pálidas, iluminadas por raios de sol cada vez mais escassos.
O outono nos traz aquele misterioso ar de recolhimento, ao mesmo tempo que nos convida a caminhar através dele, deixando um rastro.
Mesmo ao observarmos as folhas que começam a cair, percebemos que, de algum modo, também fazemos o mesmo. É impossível seguir adiante sem deixar algo para trás — um pensamento, um sentimento, um estilo de vida que já não nos serve mais. Sempre há algo que fica para trás.
Heráclito disse sabiamente: “Nada é permanente, exceto a mudança.“

E, de fato, a vida é uma constante mudança. O tempo não nos deixa esquecer disso. O outono, na minha humilde visão de contempladora do mundo, é um caminho possível — um convite para abandonar velhos hábitos, buscar uma nova versão de nós mesmos. Mas isso terá um custo: a versão antiga precisará partir.
Ainda assim, o medo surge. Medo de ficar sem folhas, de perder aquilo que acreditávamos ser nosso. Mas, se algo se vai, talvez nunca tenha realmente nos pertencido.
Considere as folhas como um empréstimo da natureza para nossa vida simples e solitária. Elas cairão, inevitavelmente. Não há como segurá-las.
O vento virá, balançando os galhos até que elas se desprendam e voem para longe. Depois, chegará o frio, estremecendo a estrutura que as sustentava. Os dias longos e cinzentos se farão cada vez mais presentes, até que pareça insuportável.
E então, quando toda esperança parecer perdida, o frio se dissipará. O canto dos pássaros voltará a preencher o silêncio e, mesmo que o coração tenha endurecido pelo gelo do inverno, ele ainda permanecerá aberto. O calor do sol aquecerá seus ramos, e, em breve, novas folhas brotarão por conta própria.
Era necessário atravessar o medo e o frio, encarar a incerteza de não saber se as folhas voltariam. Mas elas retornam. Crescem. Florescem. Renovam todo o seu ser.
Não tenha medo de deixar algo para trás. A natureza é cíclica. Se ela nos tira algo, nos devolve algo melhor.
Mas, antes, é preciso deixar as folhas caírem.
É preciso ser contemplativo e resiliente para perceber e aceitar todas essas mudanças. É necessário, também, ser paciente para aguardar pelo momento certo. Por fim, é fundamental (re)ler o mundo, a sociedade e a si mesmo para saber o que e por que mudar. “Quando não podemos mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.” (Viktor Frankl)