Vivemos em um mundo cada vez mais acelerado, onde o tempo parece escorregar por entre os dedos. Em meio às demandas diárias, encontrar momentos de contemplação se tornou um desafio. É aí que a poesia surge como um refúgio, oferecendo pausas necessárias para refletir, sentir e enxergar o mundo com mais profundidade.
Mais do que palavras bonitas, a poesia é uma forma de contemplação que nos permite observar detalhes esquecidos na rotina. Através de versos simples ou complexos, os poetas nos convidam a desacelerar e a mergulhar em emoções e pensamentos profundos. Neste artigo, você vai descobrir como a poesia pode ser uma poderosa ferramenta para desenvolver a arte de contemplar e viver de forma mais consciente.
O poder contemplativo da poesia
A poesia é, por natureza, uma arte que nos convida a pausar. Através das palavras, somos conduzidos a um estado de introspecção, onde a observação do mundo exterior se transforma em reflexões internas. O ato de ler um poema exige atenção, sensibilidade e, acima de tudo, um olhar aberto ao inesperado.
Poesias como as de Fernando Pessoa ou Cecília Meireles são exemplos de como um simples verso pode revelar verdades profundas. O ritmo dos versos, as metáforas e as imagens poéticas despertam um senso de presença e convidam o leitor a ver a beleza em pequenas coisas.
Como a poesia nos ensina a contemplar?
A poesia nos ensina a contemplar por meio de:
Observação dos detalhes
Os poetas capturam a essência dos momentos mais simples, como uma flor desabrochando ou o som da chuva batendo na janela. Esses detalhes, muitas vezes ignorados no cotidiano, ganham vida através das palavras.
Ritmo e pausa
A leitura de um poema é, por si só, um exercício de pausa. Cada estrofe nos obriga a desacelerar e a refletir sobre o que foi dito, criando um momento de conexão profunda.
Exploração das emoções
A poesia é uma janela para o nosso mundo interior. Sentimentos como tristeza, alegria, nostalgia e esperança ganham voz e nos ajudam a compreender nossas próprias emoções.
Poemas que convidam à contemplação
A seguir, selecionei alguns livros de poemas que exemplificam a arte de contemplar e que podem ser lidos como verdadeiros exercícios de presença e reflexão.
1. “Livro do desassossego” – Fernando Pessoa
Fernando Pessoa é considerado o poeta universal, reconhecido por escrever sob diversas personalidades e em português e inglês.
Entre o luar e o arvoredo
Entre o luar e o arvoredo,
Entre o desejo e não pensar
Meu ser secreto vai a medo
Entre o arvoredo e o luar.
Tudo é longínquo, tudo é enredo.
Tudo é não ter nem encontrar.
Entre o que a brisa traz e a hora,
Entre o que foi e o que a alma faz,
Meu ser oculto já não chora
Entre a hora e o que a brisa traz.
Tudo não foi, tudo se ignora.
Tudo em silêncio se desfaz.
2. “Viagem” – Cecília Meireles
Este livro foi o passo inicial para Cecília Meireles ser apontada como a maior poetisa da língua portuguesa. Seus versos, repletos de delicadeza e sensibilidade, despertam no leitor imagens e sentimentos adormecidos nos estados da alma humana, convidando-o para acompanhá-la, como privilegiado passageiro, nessa inquieta viagem que é a vida.
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
– não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
– mais nada.
3. “Poesias” – Olavo Bilac
A perfeição formal, o culto à beleza e o preciosismo concederam a Olavo Bilac o título de “príncipe dos poetas”. Poucos escritores manifestaram tal propriedade ao pintar retratos com as palavras. Em cada verso e cada rima, a poesia revela a imponderável beleza das coisas – da arte, do amor, da natureza, da mulher.
Velhas árvores
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas…
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
4. “Corpo” – Carlos Drummond de Andrade
Neste livro, Drummond explora as contradições do corpo de forma solene e intensa, como no trecho do poema abaixo:
Como incorporar a poesia à sua rotina?
Se você deseja começar a praticar a arte da contemplação através da poesia, aqui vão algumas dicas simples:
- Leia devagar: Reserve alguns minutos por dia para ler um poema com calma, absorvendo cada palavra e imagem.
- Reflita sobre os versos: Após a leitura, feche os olhos e pense no que os versos significaram para você.
- Escreva seus próprios poemas: Não se preocupe com regras ou estrutura, apenas escreva o que sente.
- Escute poesia: Existem muitos podcasts e audiobooks com leituras poéticas que podem ser ouvidos durante o dia.
Conclusão
A poesia é mais do que um exercício literário: é uma prática de atenção plena e contemplação. Em um mundo que nos impulsiona a estar sempre ocupados, encontrar tempo para a leitura de poemas pode ser uma forma de reconectar com o presente e cultivar uma mente mais tranquila e reflexiva.
Seja através dos versos de Fernando Pessoa, das reflexões de Cecília Meireles ou das palavras emocionantes de Carlos Drummond de Andrade, a poesia tem o poder de transformar nosso olhar sobre a vida.
E você, já encontrou um poema que mudou a sua forma de ver o mundo? Compartilhe nos comentários e ajude outros leitores a descobrirem a beleza da contemplação.