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Resenha “Aprender a falar com as plantas” de Marta Orriols

A literatura tem o poder de nos conectar profundamente com as emoções humanas, e o livro “Aprender a Falar com as Plantas” de Marta Orriols é um exemplo perfeito disso. Esta obra nos leva a uma jornada intensa e dolorosa pelo luto, traição e autodescoberta, acompanhando a trajetória de Paula Cid, uma mulher que, de repente, se vê forçada a confrontar suas maiores dores e fragilidades.

A protagonista: Paula Cid

Paula Cid é uma neonatologista de 42 anos, dedicada à sua carreira, especializada em cuidados intensivos de recém-nascidos. Essa profissão, que lida diretamente com a fragilidade da vida, reflete muito da personalidade de Paula: sensível, empática e profundamente comprometida com aquilo que faz. É nesse contexto que começamos a entender o quão devastador é o golpe que ela sofre logo no início da história.

A vida de Paula é virada de cabeça para baixo quando Mauro, seu companheiro há 15 anos, a convida para um almoço onde revela que está envolvido com outra mulher e que pretende sair de casa. Horas depois, Mauro sofre um acidente fatal, deixando Paula não apenas viúva, mas também carregando a dolorosa bagagem de uma traição recém-descoberta.

O Luto e a traição: uma dupla face da dor

A narrativa de “Aprender a Falar com as Plantas” mergulha profundamente nas camadas complexas do luto e da traição. Paula precisa lidar com o luto de duas maneiras: o luto pela morte de Mauro e o luto pela perda do relacionamento que ela acreditava ter. A traição adiciona uma camada extra de amargura a essa dor, transformando o processo de luto em algo ainda mais complicado e dilacerante.

É interessante notar como Marta Orriols estrutura a narrativa para nos fazer sentir na pele as emoções de Paula. A escrita em primeira pessoa é uma escolha poderosa, permitindo que o leitor se conecte diretamente com os pensamentos e sentimentos da protagonista. Há capítulos em que Paula escreve como se estivesse conversando diretamente com Mauro, e isso nos dá uma visão íntima de como ela processa a dor e a raiva que sente.

Essa forma de escrita também nos permite acompanhar de perto as decisões que Paula precisa tomar enquanto tenta reconstruir sua vida. Apesar de ferida pela traição, ela consegue resgatar momentos de ternura e afeto que viveu ao lado de Mauro, o que demonstra uma maturidade emocional impressionante. Paula não se permite ser consumida pelo rancor; ela reconhece que, apesar de tudo, houve amor entre eles.

As plantas como símbolo de resiliência

Um dos aspectos mais simbólicos do livro são as plantas que Mauro deixou no apartamento. Essas plantas acabam se tornando uma espécie de metáfora para o processo de cura de Paula. No início, elas são um lembrete constante da presença de Mauro, um peso que ela carrega em sua casa e em seu coração. No entanto, à medida que Paula começa a cuidar dessas plantas, elas passam a representar sua própria capacidade de sobreviver e florescer, mesmo em meio à adversidade.

As plantas, assim como Paula, precisam de cuidado, atenção e tempo para se desenvolverem. Elas também simbolizam a possibilidade de crescimento e renovação, mesmo após uma grande perda. Esse processo de cuidado com as plantas reflete o próprio processo de Paula em cuidar de si mesma, aprendendo a se reconectar com o mundo e a encontrar novos significados para sua vida.

A solidão e a vulnerabilidade

Outro tema central na obra é a solidão e a vulnerabilidade de Paula. A morte de Mauro a deixa não apenas viúva, mas também profundamente solitária. Ela se vê sozinha, tendo que lidar com uma traição que ninguém mais conhece, o que intensifica seu sentimento de isolamento. A autora explora de forma sensível como Paula lida com essa solidão, tentando se reconectar com o mundo ao seu redor.

Paula tenta se envolver com outros homens, mas suas tentativas são frustradas pela comparação inconsciente que faz entre si e a amante de Mauro. Esses relacionamentos fracassados revelam a dificuldade de Paula em se sentir desejada e valiosa após a traição. Ela se questiona sobre o que deu errado, sobre como Mauro pôde preferir outra mulher, e isso a leva a uma dolorosa jornada de autoconhecimento.

A jornada de redenção e autodescoberta

Conforme Paula avança em sua jornada de luto, ela também embarca em um processo de autodescoberta. Ao investigar o que antecedeu o acidente de Mauro, Paula começa a entender mais sobre si mesma e sobre o relacionamento que tinha. Ela se depara com verdades dolorosas, mas também com a necessidade de se perdoar e de seguir em frente.

Essa jornada de redenção é marcada pela ressignificação de muitos aspectos de sua vida. Paula aprende a aceitar a imperfeição de seu relacionamento e a valorizar as boas lembranças, sem permitir que a traição apague os momentos felizes que viveu. Ela também começa a ver as plantas não apenas como um fardo, mas como um símbolo de sua própria capacidade de se renovar e crescer.

Reflexões sobre a vida e a morte

“Aprender a Falar com as Plantas” é um livro que nos convida a refletir sobre a imprevisibilidade da vida e a inevitabilidade da morte. Através da profissão de Paula, somos constantemente lembrados da fragilidade da vida humana, especialmente dos bebês prematuros que ela cuida. Esse contraste entre a luta pela vida no hospital e a morte repentina de Mauro adiciona uma camada de profundidade à narrativa.

A obra também nos faz pensar sobre como lidamos com a perda e o sofrimento. Paula, em sua tentativa de fugir da dor, se refugia em seu trabalho, dedicando-se ainda mais aos seus pequenos pacientes. No entanto, essa fuga apenas adia o inevitável confronto com suas emoções. Marta Orriols nos mostra que, por mais que tentemos evitar, a dor precisa ser enfrentada para que possamos seguir em frente.

O valor da vulnerabilidade e da aceitação

Uma das grandes lições do livro é o valor da vulnerabilidade e da aceitação. Paula, ao longo de sua jornada, aprende que é preciso aceitar suas emoções e suas imperfeições para se curar verdadeiramente. Ela também descobre que é possível encontrar força na vulnerabilidade, que ser honesta consigo mesma e com suas dores é o primeiro passo para a verdadeira redenção.

Marta Orriols transmite essa mensagem de forma sutil, mas poderosa, através da trajetória de Paula. A protagonista nos ensina que, mesmo nos momentos mais sombrios, há uma possibilidade de renascimento, desde que estejamos dispostos a encarar nossas feridas e a cuidar de nós mesmos.

A escrita de Marta Orriols: sensibilidade e profundidade

Marta Orriols constrói uma narrativa envolvente e emocionalmente rica, que nos prende do início ao fim. Sua escrita é delicada, cheia de nuances e profundamente humana. Ela consegue capturar a complexidade das emoções de Paula de maneira que o leitor sente cada dor, cada dúvida e cada pequena vitória da protagonista.

Os capítulos curtos e a narrativa em primeira pessoa tornam a leitura ainda mais intensa e pessoal. Orriols não se apressa em resolver os conflitos de Paula; pelo contrário, ela permite que a protagonista e o leitor explorem cada sentimento, cada pensamento, de maneira natural e realista.

Conclusão

“Aprender a Falar com as Plantas” é mais do que uma história sobre luto e traição; é uma obra que nos faz refletir sobre a vida, a morte, e a complexidade das relações humanas. Marta Orriols nos apresenta uma protagonista forte e vulnerável ao mesmo tempo, que luta para encontrar sentido em meio ao caos de suas emoções.

Este é um livro que toca o coração e a alma, que nos lembra da importância de cuidarmos de nós mesmos e de nossas feridas, e que nos ensina que, por mais difícil que seja, é possível encontrar um caminho para a cura e a renovação.

Espero que você tenha gostado dessa resenha então, lembre-se de compartilhar com alguém que precisa conhecer essa história!

Mil beijos literários e até o próximo post!

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