Ler Pra Quê?

O Papa que construiu uma ponte para a literatura

Jorge Mario Bergoglio nasceu em 17 de dezembro de 1936 em Buenos Aires, na Argentina e foi o primeiro papa latino-americano da história. E no dia 21 de abril de 2025, o mundo recebeu a notícia do falecimento de um dos líderes religiosos mais carismáticos e empáticos do nosso tempo: o Papa Francisco. 

Independentemente da crença individual de cada um, é impossível negar a força de suas palavras e o impacto que seu pensamento teve na humanidade ao longo dos últimos anos.

Em sua juventude, chegou a ensinar literatura em uma escola jesuíta. Já mais velho, escreveu que encontrou resistência de alunos para ler obras complexas — o que não o impediu de acreditar que mesmo os textos difíceis têm seu valor.

O Papa Francisco lia escritores como Jorge Luis Borges, Proust e os poetas da América Latina. Também mencionava com frequência autores como Alessandro Manzoni e Dante Alighieri — este último, símbolo da literatura italiana e da busca humana por sentido. Seus pronunciamentos, muitas vezes, faziam referência a personagens e obras literárias como forma de traduzir ideias complexas em emoções humanas compreensíveis por todos.

A literatura, para ele, não era apenas um prazer ou um passatempo. Era uma forma de escutar o mundo, de tocar a alma das pessoas, de ampliar o olhar sobre o outro e sobre si mesmo.

A literatura como espaço de cura e maturidade

Em uma de suas reflexões mais bonitas, Papa Francisco escreveu que encontrar um bom livro pode ser como um oásis em meio ao tumulto. Para ele, a leitura não era apenas lazer — era espaço de cura. Abria portas internas, desviava o foco de pensamentos obsessivos e ajudava a enfrentar as tempestades da vida com mais serenidade.

Ele lamentava que a literatura fosse pouco valorizada na formação de sacerdotes, mas seu argumento ia além das fronteiras religiosas: livros ajudam no amadurecimento pessoal. Ler romances e poemas, dizia, era fundamental não apenas para quem quer evangelizar, mas para qualquer ser humano que deseja crescer.

Um Papa que lia o mundo com empatia

Um dos traços mais marcantes de seu papado foi a empatia. Francisco falava com naturalidade sobre sofrimento, dúvidas, alegrias cotidianas, e usava a linguagem como uma ponte entre diferentes culturas, crenças e realidades.

Ele defendia o encontro, o diálogo e a cultura da paz — valores que também encontramos nos livros mais sensíveis e verdadeiros. Francisco acreditava que a leitura poderia expandir horizontes, provocar mudanças interiores e inspirar ações concretas.

Autores que inspiraram o pontífice

Ao longo de sua trajetória, Francisco citou diversos autores, de diferentes épocas e estilos. Seu gosto era amplo, reflexivo e humano. Entre os nomes mais recorrentes, estão:

Jorge Luis Borges – O pontífice teve contato pessoal com o escritor argentino e sempre demonstrou admiração por sua sensibilidade e profundidade filosófica.

C.S. Lewis – Especialmente pelas reflexões existenciais e pela fantasia como recurso para tratar da alma humana.

Marcel Proust – Pela capacidade de traduzir o tempo, a memória e o cotidiano em experiências literárias densas.

T. S. Eliot – Um poeta que compreendia os silêncios, as pausas e o vazio com grande maestria.

Dante Alighieri – “A Divina Comédia” foi uma das obras mais citadas por ele, como uma jornada que representa também nosso caminho interior.

Alessandro Manzoni – Com “Os Noivos“, Francisco enxergava a luta entre o bem e o mal, a fé e a resistência nas adversidades.

Essas leituras não eram meras citações: eram vivências, experiências incorporadas em sua forma de comunicar, pensar e olhar para o outro.

Para além das crenças, um convite à leitura

A morte de uma figura pública sempre nos convida a refletir. E a leitura também. Talvez, a partir de hoje, possamos revisitar as palavras deixadas por Francisco — em suas mensagens, discursos e pensamentos — como quem abre um livro em busca de sentido, de conforto ou de inspiração.

Independentemente da fé, as palavras que acolhem são sempre bem-vindas. E, nesse ponto, Papa Francisco deixa uma herança valiosa: a lembrança de que o poder da literatura está em abrir caminhos para dentro e para fora, para o outro e para o mistério da vida.

Que possamos continuar lendo, sentindo e vivendo com mais escuta, mais presença e mais empatia. Porque, como ele dizia, “um bom livro nos ajuda a enfrentar a tempestade”.

E talvez, como leitores, essa seja a nossa forma de seguir — com livros nas mãos e o coração atento ao que há de mais humano nas histórias.

Se você gostou desse conteúdo, compartilhe!
5 1 voto
Article Rating
Inscrever-se
Notificar de
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Receba nossa newsletter

Pílulas da Semana

Nossa dose semanal para ajudar a cuidar da sua vida literária: reflexões, indicações de livros e muita inspiração na sua caixa de entrada.

Ler Pra Quê?
Política de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência possível ao usuário. As informações sobre cookies são armazenadas no seu navegador e desempenham funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você acha mais interessantes e úteis.