Neste texto, quero comentar sobre duas grandes músicas do cancioneiro nacional (e juro que não é em tom de humor, deboche ou qualquer coisa; estou falando sério). Na minha cabeça, ambas são críticas sociais, uma com humor e outra em tom bem mais sério. Ambas têm uma peculiaridade que, nas próximas linhas, vamos discutir. E, para quem ficou curioso, as músicas são — ”Robocop Gay”, dos Mamonas Assassinas; e “Construção”, de Chico Buarque.
“Robocop Gay” pode ser interpretada, para além do tom humorístico de Dinho e seus colegas, como um tipo de “manifesto engraçado” pela aceitação das pessoas LGBT (“abra sua mente / gay também é gente”). Mesmo com os trajes divertidos em cima do palco, a ideia de que ser LGBT é algo natural do ser humano permeia a música toda (inclusive, há menções a diversos grupos tidos como ‘machões’, que também podem sair do armário). Isso tudo nos anos 1990, quando não havia praticamente nada na mídia e nem se falava sobre homossexualidade nas escolas ou na sociedade (na verdade, era algo bem malvisto e ainda mais reprimido).
Já “Construção” fala do desinteresse e da indiferença que marcam a vida de um trabalhador médio. Em uma das estrofes, Chico canta que o pobre trabalhador morre atrapalhando o trânsito. A vida desse pobre homem não vale nada; apenas seu corpo deve ser retirado para não obstruir o fluxo de carros na via. É uma canção que trata do pouco valor que o governo da época — extremamente focado no crescimento econômico e esquecendo que havia humanos com sonhos e uma vida trabalhando — dava ao trabalhador. Ele era apenas um pequeno número registrado na contabilidade da empresa e nada mais. “Construção”, arrisco dizer, é a mais importante música já lançada no Brasil.
Entre as duas músicas há uma genialidade linguística irretocável: todas as últimas palavras de cada estrofe terminam em proparoxítonas. Isso é simplesmente genial do ponto de vista poético. Salvaguardadas as devidas proporções, a genialidade dos Mamonas e a de Chico em algum momento dão as mãos na capacidade de fazer rima e estrofe, mas também de escrever uma crítica (seja em tom de piada ou com um olhar sério).











