Artista: Itamar Assumpção e Banda Isca de Polícia
Álbum: “Beleléu, Leléu, Eu”
Ano de lançamento: 1980
Quantidade de faixas: 13
“Beleléu, Leléu, Eu”, também conhecido como “Beleléu e Banda Isca de Polícia”, é o álbum de estreia de Itamar Assumpção, lançado independentemente pelo selo Lira Paulistana. Considerado um dos marcos da Vanguarda Paulistana, o disco mistura MPB, soul, reggae, jazz e rock, com arranjos experimentais e a força da Banda Isca de Polícia. As composições de Itamar são marcadas por ironia, crítica social e um humor ácido que se tornaria uma de suas marcas mais reconhecíveis.
O álbum surgiu no contexto da efervescência artística do Lira Paulistana, em meio a nomes como Arrigo Barnabé e o Grupo Rumo, e tornou-se um dos primeiros discos independentes a ganhar destaque nacional, abrindo caminho para uma produção musical fora das grandes gravadoras.
Entre as faixas de maior destaque está “Luzia”, uma potente crítica às relações sociais e ao comportamento de personagens urbanos, construída com diálogos teatrais e confrontos verbais. A sonoridade mistura funk, reggae e MPB experimental, marcada por forte presença rítmica e teatralidade vocal.
Outro ponto forte é “Fico louco”, uma explosão de energia e rebeldia cuja letra fala sobre perder o controle e viver intensamente, combinando crítica social, humor e desejo de liberdade. Musicalmente, une rock, reggae e funk, sempre sustentado pela pulsação característica da banda.
“Se eu fiz tudo” também merece destaque, pois sua letra aborda a dedicação extrema em nome do amor, apresentando um eu lírico que se doa por completo (corpo, alma, sangue e plasma) sem ter esse esforço reconhecido. A faixa segue o estilo da Vanguarda Paulistana, com MPB experimental, elementos de funk e reggae, e arranjos intensos.
Já “Baby” traz um tom mais sombrio e crítico, evocando uma atmosfera urbana sufocante, marcada por imagens como o “céu de chumbo” e a sensação de opressão. A combinação de MPB experimental, reggae e funk reforça o clima de tensão e contestação.
“Nega música” aborda a força da própria música, tratada como uma figura feminina imprevisível que surge sem aviso e transtorna as emoções. Ela se destaca pela estrutura polifônica, onde vozes sobrepostas criam um efeito de eco, intensificando a sensação de que algo inesperado (a música, o amor) está chegando e se espalhando.
Por fim, “Beijo na boca” fala de desilusão amorosa. O eu lírico, apesar de toda a dedicação, percebe que para a outra pessoa a vida se resume a um simples “beijo na boca”. A ironia dos arranjos e a interpretação intensificam o tom crítico e encenado típico do artista.
Embora eu só tenha conseguido adquirir esse álbum em CD neste ano, conheço seu repertório desde a adolescência. Um dia, enquanto mudava de canal, acabei assistindo (creio que na TV Cultura) a uma apresentação de Itamar Assumpção com a Banda Isca de Polícia tocando todas as músicas desse disco. Fiquei imediatamente maravilhado e fui atrás do que consegui encontrar em MP3. Por isso, ter “Beleléu, Leléu, Eu” em formato físico, depois de cerca de vinte anos de admiração, acabou sendo uma conquista enorme.











