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A arte de contemplar

"Nada é impossível a quem pratica a contemplação. Com ela, tornamo-nos senhores do mundo."

Enquanto escrevo este texto, um sabiá acabou de pousar à minha frente, e eu me limitei a ficar imóvel para contemplá-lo, sem assustá-lo com qualquer movimento. Afinal, sou uma intrusa em seu ambiente.

Mas fique tranquilo, não vou escrever sobre sabiás – embora seja um tema muito tentador.

A palavra contemplar vem do latim contemplare e significa “prestar atenção“. Dentro do campo da filosofia, contemplar é reservar-se para fazer profundas reflexões.

Tenho um hobby que me permite esse tipo de contemplação: a fotografia (pelo celular mesmo). Gosto de capturar momentos que, para mim, são a essência do que estou vivendo. No entanto, passei a tomar certo cuidado com isso, porque, na ânsia de registrá-los, me esqueço, de fato, de contemplá-los. Em vez de ver o momento presente através da lente de uma câmera, procuro vê-lo com os olhos da alma.

Muitas vezes, observar é mais do que suficiente – é quase uma espécie de meditação. Olhar para algo com a profunda intenção de absorver a entrega daquele momento, como se fosse a primeira e única vez.

Única vez? Sim.

Quando trazemos à tona a raridade de um evento, ele se torna único, e então prestamos mais atenção. Voltando ao sabiá: ao perceber que poderia ser minha única oportunidade de vê-lo tão de perto, parei por alguns instantes para contemplá-lo.

É claro, pode ser que haja outras ocasiões em que isso se repita, mas convenhamos que não é algo tão comum.

O fato é que estamos tão habituados ao que é comum que esquecemos de contemplar. Quando algo raro acontece, como a passagem de um cometa que só retorna a cada 100 anos, ou o salto de uma baleia no oceano, damos muita importância.

Mas a vida em si é rara e tem seus momentos de unicidade – só que a maioria de nós não está pronta para contemplá-los. Confesso que, até pouco tempo, eu também não sabia como fazer isso.

Então, sempre que surge uma oportunidade de pausar a rotina, busco eternizar aquele momento com meus olhos, e não com a câmera do celular – o que também é um desafio para mim, mas um aprendizado constante.

Às vezes, tudo o que precisamos é olhar para algo tão comum como se fosse a nossa última oportunidade de fazê-lo.

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Guilherme Mossini Mendel
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3 meses atrás

Belíssima reflexão, Bárbara. Esta vida tão célere, vazia e virtual que a sociedade construiu inibe a contemplação no nosso cotidiano. Muitas vezes, até temos vontade de saborear melhor os momentos. Entretanto, vivenciamos tudo no modo automático.

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