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Quando música e saúde mental conversam

Neste breve texto, pretendo comentar uma música em específico da banda Disléptiku’s Bloodycore. Um som que, particularmente, me pegou em cheio por ser um tema bastante caro para mim e que afeta não só a minha vida, mas a de milhões de pessoas ao redor do mundo: uma questão de saúde mental que, se não tratada corretamente, pode levar ao suicídio. Falo da música “Transtorno Bipolar”. Bora conversar um pouco?

Para começar, quero dizer que, sim, sou uma pessoa com transtorno bipolar diagnosticado desde 2005 e faço uso de medicamentos, bem como terapia semanal. Posso dizer que é uma luta diária. Uma das partes que relata esse enfrentamento que a pessoa tem consigo mesma me chamou atenção, que é quando a canção diz:

 

“Sou o seu pior pesadelo

Renascendo das cinzas mais uma vez 

Sou o seu labirinto de medos

Caminhe por mim com sensatez”.

 

Todo transtorno não tratado é um pesadelo enorme na vida de uma pessoa. Toda fragilidade mental renasce se não houver um cuidado rígido e extremo e, sim, antes do diagnóstico e do tratamento correto, a pessoa se encontra num labirinto. 

Ela não sabe o porquê de as alterações de um humor de euforia plena acabar e, depois de algum tempo, é acometida numa profunda depressão. Quando se anda no labirinto da bipolaridade sem saber que se está nele, os estados mentais de euforia e depressão se alternam, fazendo com que a pessoa se desgaste até, em muitos casos, levando-a a ceifar a própria vida. 

Por isso, para andar com sensatez nesse labirinto, é preciso uma rede de apoio; é preciso tratamento e ajuda. O que, infelizmente, muitas pessoas não têm, pois, além de sofrerem com o transtorno, enfrentam jornadas absurdas de trabalho e baixos salários, não havendo assim, tempo e dinheiro para um tratamento adequado.

No decorrer da letra, são descritas as enormes dificuldades de lidar consigo mesmo na condição de bipolar e como isso afeta a paz da pessoa e, acrescento, das pessoas ao seu redor. Uma frase que me chama atenção nessas linhas é: 


Aceite de bom grado esta derrota”. 


E talvez ela esteja certa. Não se vence o transtorno bipolar; ele é incurável por ser (quase sempre) genético. E, mesmo que seja bem tratado, os sintomas sempre aparecem (mesmo que de forma mais fraca). É uma batalha diária a manutenção da saúde mental e, à custa de muito esforço, vencer uma batalha por dia (e, às vezes, perder).

A parte final, para mim, foi a mais impactante: 


“É difícil lutar quando seu oponente

É realmente você mesmo

Você mesmo

Transtorno bipolar”. 


É, como disse, uma luta diária que exige muitas renúncias (e a pessoa deve estar disposta a fazê-las). Ter uma rotina, fazer exercícios, tomar vários remédios, não consumir nada de álcool (nada mesmo), cuidar dos horários de sono, não usar nenhum entorpecente, investir dinheiro em terapia. São exigências feitas ao paciente, e o comprometimento absoluto com elas se torna necessário. 

Muitas pessoas não conseguem; muitas não querem mudar hábitos, e isso é compreensível. Ninguém quer deixar de tomar uma cerveja com amigos, gastar com medicamentos. É de se compreender e acolher esses indivíduos, mas, muitas vezes, a vida exige renúncia e não há o que fazer, ainda mais com um transtorno sério.

Buenas, galera! Espero que gostem do texto, que mistura um pouco da minha experiência com as coisas que li e as palestras a que assisti sobre transtorno bipolar e saúde mental. 

Cuidem-se e até a próxima!

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Aladir Carlos Mariga
Visitante
Aladir Carlos Mariga
4 dias atrás

Adilson. Me solidarizo e inclusive peço desculpas por uma certa grosseria minha ainda o ano passado. Escreveste com propriedade, coragem de expor o que muitas famílias escondem. Bela iniciativa.

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