Artista: Tokyo
Álbum: “Humanos”
Ano de lançamento: 1985
Quantidade de faixas: 10
Se me recordo bem, adquiri este CD em uma loja de Passo Fundo (RS), quando estava no fim da adolescência. Assim que comprei o disco, minha família e eu voltamos para o carro, para iniciar a viagem de retorno a Erechim (RS). Então, pedi para o meu pai colocar o álbum para rodar no som do automóvel, porque a minha curiosidade era tamanha que eu não podia esperar até chegar em casa. Na verdade, eu nem sabia o que me aguardava. Tinha apenas o conhecimento de que Tokyo era a banda da qual o músico Supla fazia parte antes de iniciar a sua carreira solo.
Logo, no momento em que soaram os primeiros acordes, já me apaixonei; e tive a certeza de que havia garimpado uma preciosidade. A primeira faixa, “Eu sou triste”, parecia ter sido escrita por mim, de tanto que me identifiquei com ela. O “eu” adolescente enxergou-se demais naquela letra. E o “eu” de hoje, também, hehehe. O som é uma mistura de ska com new wave, tendo um maravilhoso som de baixo bem contundente. Além disso, o vocal quase displicente do Supla dá um tempero todo especial à música.
O álbum apresenta “Intenções”, uma canção mais romântica, cujo início traz a bateria sugerindo os sons da batida de um coração, o que ainda considero brilhante. Então, quando a música engrena, novamente o baixo marca uma melodia encantadora, o que deixa doido um entusiasta desse instrumento, como eu.
A terceira faixa trata-se, nada mais, nada menos, do que a clássica e ainda em evidência “Garota de Berlim”, composta pelo Supla para a sua namorada da época, a extravagante cantora alemã Nina Hagen. Um dos diferenciais dessa versão, não só pela sonoridade new wave em comparação às regravações, mais puxadas para o Punk Rock, é a participação da própria artista germânica, falando em inglês e tentando cantar em português, o que incrementa demais a música.
Posteriormente, a quinta canção, intitulada “Roupa X”, comprovou ser uma das composições mais geniais que já ouvi em Língua Portuguesa. A sonoridade é maravilhosa, quase uma mistura de Depeche Mode com Duran Duran. Mas a letra…!!! Nela, é sugerida uma espécie de realidade distópica, onde, na verdade, conclui-se que os componentes da Tokyo discorrem a respeito desta nossa nada maravilhosa sociedade, especialmente em relação ao narcisismo, bem como à ostentação de roupas de marcas caras e famosas por parte da maioria das pessoas. Genial!
Na sequência, quando eu achava que não poderia surgir nada melhor, aparece “Humanos”, a qual, sem sombra de dúvidas, é, assim como a anterior, uma das criações mais notáveis da música brasileira. Tanto que ainda é regravada por diversos artistas, como a banda paulista Inocentes, que fez isso recentemente. A sonoridade é profundamente contagiante e sugere, por exemplo, em algumas ocasiões, o som de pessoas marchando. Por sua vez, a letra escancara somente isto: “Esses humanos que circulam / Pela cidade aí afora / Eu não aguento / Eles querem me conquistar / Eu não aguento / Eles querem me controlar / Querem me obrigar / A ser do jeito que eles são / Cheios de certezas / E vivendo de ilusão / Mas eu não sou / Nem quero ser / Igual a quem me diz / Que sendo igual / Eu posso ser feliz”.
Destacarei, por fim, a oitava faixa, chamada “Romântica”, que conta com a participação do saudoso crooner Cauby Peixoto. A canção, na época, contou inclusive com um curioso videoclipe exibido pelo programa “Fantástico”, da Rede Globo. Foi uma bela homenagem em vida a um dos artistas mais respeitáveis deste país, por ser completamente dedicado à sua arte, ao ponto de ser chamado de “professor” pelos demais músicos, e por nunca ter encorajado as inúmeras especulações a respeito da sua vida particular, apesar dessas terem contribuído decisivamente para que o público o visse como um personagem caricato e, infelizmente, um cantor subestimado.
Portanto, pode-se afirmar que “Humanos” é um álbum inegavelmente relevante dentro da discografia da música nacional, ainda pouco (re)conhecido. Além disso, tirando o álbum “Bossa Furiosa”, de 2003, creio que foi a iniciativa mais formidável do qual o também menosprezado e ridicularizado Supla participou.
Sendo assim, fica aqui o convite para curtir esse fascinante álbum nas diversas plataformas de música hoje existentes, bem como para que siga acompanhando os próximos resgates sonoros oportunizados pela nossa dedicada equipe.
TOKYO – HUMANOS (1985)
01 — Eu sou triste
02 — Intenções
03 — Garota de Berlim (participação de Nina Hagen)
04 — O tal poder
05 — Roupa X
06 — Humanos
07 — Mão direita
08 — Romântica (participação de Cauby Peixoto)
09 — Programado
10 — Estações
