Em uma era extremamente minimalista, onde ter objetos que não sejam “úteis” para o dia a dia se tornou apenas um “desperdício de espaço”, vale ainda a pena comprar CDs, DVDs, discos de vinil, livros e tudo o que pode ser digitalizado, tornando as coisas mais “práticas”? Mídias físicas são um bom negócio ou “tem tudo na internet”, e não dá pra desperdiçar dinheiro com esse tipo de coisa?
O valor da experiência de ouvir um álbum (e aqui vale a menção: quantas pessoas ainda escutam um álbum inteiro de ponta a ponta?), olhando pro encarte e lendo a letra, é o mesmo que escutar no fone do celular? Quero conversar um pouco sobre isso.
Primeiramente, quero dizer que também ouço música e vejo filmes em plataformas de streaming e é bem útil, pois, infelizmente, não tenho dinheiro nem espaço pra ter tudo que quero ler, assistir e ouvir em material físico. No entanto, sempre ressalto a delícia que é pegar um livro na mão, dar aquela folheada nas páginas antes de ler, sentir o cheiro de papel (seja velho ou novo), sentar na minha cadeira e desfrutar da obra.
Também acho uma maravilha colocar um vinil na vitrola ou um CD pra rodar. Sentar, olhar o encarte e ouvir calmamente o álbum todo. É um ritual bom, que descansa a alma, que, pra mim, me aproxima muito do artista. Leio os agradecimentos, as letras (muitas vezes leio a tradução, pois meu inglês não é lá essas coisas), olho as fotos e, daqueles que consegui, vejo os autógrafos (inclusive, sempre me emociono ao ver um CD autografado pelo Mestre Edgard, falecido tecladista do Tuatha de Danann, pois esse autógrafo jamais poderia ser dado na tela de um celular).
O material impresso ou compactado num disco tem o feeling do artista. Fotos selecionadas, estilo de letra previamente planejado, desenho da capa feito por um artista (não gosto da ideia de ter IA na capa). Tudo isso é impresso e digitalizado pra caber naquele pequeno disco ou naquela “bolacha”, tornando única a experiência de ouvir um som. Pra mim, é incomparável com simplesmente colocar pra rodar uma música no celular ou no PC (claro, no ônibus ou na academia não rola colocar CD pra ouvir; para questões práticas, vale o digital. Porém, reitero, é apenas para mera praticidade).
Uma coisa que vale ser mencionada é: filmes saem do catálogo dos streamings sem mais nem menos, bandas podem retirar seus trabalhos das plataformas de música, fazendo com que o assinante fique sem acesso ao filme, série ou música preferida. Ter uma certa variedade de mídias físicas possibilita certa segurança de poder ver e ouvir aquilo que quer a hora que bem entender.
CDs, DVDs e afins, quando comprados, pertencem ao dono, ao passo que em um Spotify da vida a pessoa apenas aluga o que está lá (e o dono do material, lembrando, tem autonomia pra retirar quando lhe der na telha).
Ainda, vale falar a respeito da minha experiência pessoal com CDs que, ao longo de anos indo a festivais de rock e metal, sempre comprava alguma coisa. Junto com a compra do material, vinha uma troca de ideias, uma resenha, seguir o pessoal nas redes sociais e acompanhar o trabalho da banda de perto.
É algo que guardo com afeto todas as vezes que sentei para conversar com um artista, fiz uma compra pra dar um apoio, segui nas redes e mantive contato por um tempo. Dou um valor imensurável pra isso; é contato humano, troca de ideias olhando nos olhos, coisa que plays de streamings dificilmente vão proporcionar.
Como disse, ali está a alma, a ideia, o feeling do artista. Por isso, eu afirmo e repito quantas vezes for necessário: vale a pena ter o CD do teu artista favorito; vale muito ter, pelo menos, o que mais se gosta. Ter a segurança que a internet não te proporciona, afinal, caso haja qualquer instabilidade, pelo menos, aquelas músicas ou filmes de que tu tanto gostas, vão estar ali seguras.