“Ler rapidamente aquilo que o autor levou anos para pensar é um desrespeito. É certo que os pensamentos, por vezes, surgem rapidamente, como num relâmpago. Mas a gravidez é sempre longa. Há frases que resumem uma vida. Por isso é preciso ler vagarosamente, prestando atenção nas ideias que se escondem nos silêncios que há entre as palavras.”
— Rubem Alves, Ostra feliz não faz pérola, p. 145
Sempre me perguntei qual era, de fato, a real importância da leitura. No nosso canal, é possível encontrar vários vídeos em que abordamos essa questão. Mas, para além das habilidades que os livros nos ajudam a desenvolver, como memória, vocabulário, organização do pensamento, aprofundamento do conhecimento e até a tão mencionada empatia, pouco se fala sobre como eles são fundamentais para despertar o nosso sentir.
Não sei se isso já aconteceu com você, mas sempre que fui interrompida durante uma leitura, qualquer que fosse, senti como se algo tivesse sido violado.
Sim, considero um desrespeito quando alguém percebe que você está imerso em um livro e, ainda assim, o interrompe. É como se uma chave fosse desligada ou a luz, repentinamente, se apagasse.
A leitura tem essa capacidade mágica de nos abduzir de forma tão intensa que sequer percebemos. O corpo até pode permanecer ali, visível aos olhos de quem passa, mas a alma… ah, essa já partiu há tempos, atravessando outras realidades por meio das páginas.
Como diria Conceição Evaristo, o escritor se co(funde) com os personagens. E, assim, também acontece com o leitor que se mistura ao cenário, atravessa séculos, culturas e espaços — até encontrar, ali, sua verdadeira morada.
Não sei você, mas eu facilmente moraria dentro de um livro.
É nesse sentir que reside a verdadeira experiência de leitura. Quando uma história, mesmo que simples, nos transborda para dentro de nós mesmos. E quanto mais lemos, mais essa estranha vontade nos envolve, nos levando ao encontro daqueles livros que se tornam referências pessoais e afetivas.
Há livros curtos que dizem tanto, que exigem ser relidos uma, duas, três vezes. E a cada releitura, temos uma nova obra em mãos.
Começamos a perceber os silêncios, as pausas significativas, aquilo que não foi dito, mas estava lá. Sentimos os personagens nos espaços entre os parágrafos. Essa leitura que nos permite sentir só acontece na presença — quando estamos, de fato, atentos ao que o livro tem a nos oferecer.
Por isso, é sempre recomendável retornar àquelas obras que um dia nos devolveram a esperança por dias melhores. Mesmo que haja tantos outros livros na fila de leitura, o reencontro com o que nos tocou profundamente tem o poder de nos renovar.
Talvez devêssemos nos lembrar mais desses pequenos afetos que transformam, aos poucos, os detalhes da nossa vida.
E é por tudo isso que, com carinho, indico a seguir algumas sugestões de leitura que me inspiraram e que, quem sabe, também possam inspirar você.
Ao Farol
Um clássico da literatura inglesa para conhecer Virginia Woolf. É uma narrativa lenta, que nos ensina sobre a passagem do tempo. Profundo e necessário como todos os escritos da autora.
As quatro vidas de Daiyu
Um livro que me fez chorar desmedidamente. Daiyu nos ensina sobre a importância de descobrir quem somos de verdade, apesar de todas as circunstâncias que tentam nos impedir.
Ponciá Vicêncio
Foi Conceição Evaristo quem escreveu e isso, por si só, já é motivo suficiente para você lê-lo, se ainda não o fez. Uma leitura que nos ensina sobre o poder das nossas relações, da importância das nossas raízes e, sobretudo, que é preciso acreditar no amor.
É claro que existem muitas outras indicações que caberiam aqui, mas esses foram os que, até o momento, mais despertaram algumas formas diferentes de ler o mundo.
Espero que você tenha gostado dessas indicações e convido a compartilhar um livro que fez com que você mergulhasse tão profundamente a ponto de esquecer tudo ao seu redor.
Um abraço e até o próximo post!