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Embalado a vácuo

Artista: Inocentes

Álbum: “Embalado a vácuo”

Ano de lançamento: 1998

Quantidade de faixas: 13

O meu primeiro contato com o “Embalado a vácuo” e, até mesmo, com os Inocentes fora assistindo ao clipe de “Cala a boca”, na antiga MTV Brasil em seus áureos tempos. Certamente, essa foi a música de maior repercussão da banda na década de 90. 

Muitos anos depois, encontrei esse CD em uma curiosa loja de Erechim, cujo acervo apresentava algumas verdadeiras preciosidades, principalmente em se tratando de um estabelecimento localizado em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, “O Armazém do CD”. Minha empolgação era imensurável! Encontrar um álbum dos Inocentes na minha cidade natal!? Era praticamente impensável!

O grupo foi formado por alguns dos pioneiros do movimento punk paulista e brasileiro, dentre eles Clemente Tadeu Nascimento – para mim, um dos gênios da música nacional, tanto pela qualidade de suas composições quanto pela sua visão de mundo diferenciada, desde que este era um mero adolescente. Inocentes foi a primeira banda brasileira a assinar com uma grande gravadora, ainda nos anos 80. 

Na década seguinte, de maneira independente, iniciou uma fase na qual explorava, com enorme competência, estilos mais alternativos de rock, ora próximos do hard rock, ora usando arranjos mais acústicos. E, a partir da metade dessa década, retornou ao punk rock, mas repaginada, com uma roupagem mais moderna, sem medo de tentar diversas sonoridades (sempre com primor) e de realizar músicas mais acessíveis ao grande público.

O fato é que os Inocentes, apesar de terem sofrido com um injusto preconceito por parte de integrantes do movimento punk, acusados de traição por terem assinado com a Warner e, assim, “se vendido”, produzem, desde o aclamado primeiro álbum “Pânico em SP”, um som verdadeiramente diferenciado, arriscando bastante em canções compostas por letras perspicazes e/ou poéticas, que dialogam com ritmos variados que casam perfeitamente com a proposta de cada uma.

E esse “Embalado a vácuo”, produzido pela Paradoxx Music, não é uma exceção, como veremos a seguir.

A primeira faixa, intitulada “Lisa”, traz um punk rock bem animado, adequado para o início de um álbum, e uma letra inteligente, que, por meio de uma bonita narrativa, retrata a realidade de inúmeras jovens em nosso país.

Em seguida, surge “Cala a boca”, uma canção com uma letra bem provocativa, uma melodia muito envolvente, um refrão convidativo e um riff e um solo de guitarra marcantes de verdade.

A terceira música da lista, “Nem sempre”, novamente um punk rock empolgante e produzido com extrema competência, fala a respeito da inconstância da vida e das pessoas.

Na sequência, há “De bar em bar”, uma das melhores canções executadas pela banda, na minha opinião. Mais lenta, soa como se todo o toque dado em cada instrumento fosse cuidadosamente estudado. Além disso, presenteia o público com um solo de guitarra maravilhoso, uma letra bem poética e um desempenho vocal emocionante por parte de Clemente.

Minta pra mim”, que apresenta pitadas de ska em seu ritmo, tem uma letra bem divertida, onde o eu lírico pede que lhe contem mentiras motivadoras, o que revela bastante sobre a sua vida monótona, com a qual boa parte de público é capaz de se identificar.

Depois, vem “Um cara qualquer”, cujos inspirados versos retratam a insatisfação do eu lírico com a realidade que enxerga e com o seu jeito de ser, que não aceita as coisas como elas são e/ou estão.

Nem tudo volta”, extremamente poética, com uma sonoridade bem trabalhada e arranjos muito interessantes, oferece reflexões sobre o passado e o presente do eu lírico, que se encontra caminhando pela cidade, saudosista e só.

A seguir, “A lei”, utilizando-se de um ritmo que nos lembra dos melhores tempos da banda Paralamas do Sucesso, traz uma letra criativa e inteligente, que brinca com toda e qualquer moralidade com a qual o indivíduo precisa lidar durante a vida.

Nada pode nos deter” sempre foi uma das que mais mexeu comigo. Em meio a um punk rock que convida o público à curtição, Clemente começa: 

Quando eu nasci / Me disseram que era pra esperar, porque / O futuro seria todo pra mim / Agora eu cresci / E cansei de esperar e descobri / Que o futuro não é aqui / Hoje eu estou / Sobre os restos e os escombros do que sobrou / Das mentiras que tive que engolir / Nada mudou / As mentiras são as mesmas, só eu que não sou / Aquele cara que ficava sem reagir”. 

E isso tudo antes da música embalar…

Por fim, “O impossível” também flerta com o ska e possui versos poéticos e perspicazes; “Vícios”, mais carregada e sombria, entrega uma triste poesia à realidade de um viciado em drogas. “Eddy Teddy Blues”, como o próprio nome sugere, é um blues instrumental composto em homenagem ao músico Eddy Teddy, falecido na época em que o álbum era produzido, a quem os Inocentes também dedicam todo o “Embalado a vácuo”. 

E “Fechem os olhos dos jornais”, uma linda mistura de ritmos encabeçada pelo rap, revisita uma ideia antiga da banda, cujos versos criticam a quantidade de notícias ruins encontradas nos jornais: 

Por favor, eu não aguento mais / Fechem os olhos dos jornais”.

Então, caso você nunca tenha escutado esse álbum, fica aqui o convite para uma atenta e respeitosa audição. Se você não conhece nada de Inocentes, deixo a sugestão para que, com calma, pesquise a discografia da banda, pois trata-se de um verdadeiro tesouro pouco valorizado de nosso país. 

E, caso esteja curtindo a coluna “Rebobinando”, no nosso querido e acolhedor portal “Ler Pra Quê?”, siga acompanhando as próximas publicações, porque sempre traremos conteúdos, no mínimo, curiosos. 

Até mais!

INOCENTES – EMBALADO A VÁCUO (1998)

01   Lisa

02  Cala a boca

03  Nem sempre

04  De bar em bar

05   Minta pra mim

06   Um cara qualquer

07   Nem tudo volta

08  A lei

09  Nada pode nos deter

10  O impossível

11  Vícios

12  Eddy Teddy Blues

13  Fechem os olhos dos jornais

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